Nove em cada dez alunos do 9º ano de escolas públicas não sabem fazer contas com centavos
Rafael Targino.
Nove em cada dez alunos de escolas públicas brasileiras do 9º ano
(antiga 8ª série) não sabem, por exemplo, fazer contas com centavos.
Essa é uma das conclusões de um estudo feito com exclusividade para o UOL Educação
com as notas da Prova Brasil de 2009. O exame serve para avaliar a
proficiência dos estudantes e é utilizado no cálculo do Ideb (Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica). Mais de 80% dos estudantes
brasileiros estão em unidades da rede pública.
De acordo com o estudo, feito pelo economista Ernesto Faria, 89,4% dos
alunos do último ano do ensino fundamental tiveram desempenho “abaixo do
básico” e “básico” na disciplina. Isso quer dizer que tiraram notas
menores que 300 na prova –em uma escala que chega a 425 em matemática e a
350 em português.
Tirar menos que 300 significa, segundo um documento do MEC (Ministério
da Educação) que divide as notas em faixas, que o estudante não consegue
fazer operações de adição, subtração, divisão ou multiplicação que
envolvam centavos em unidades monetárias, resolver problemas com
porcentagens ou reconhecer um círculo e uma circunferência.
As classificações são usadas pelo movimento Todos pela Educação e por
alguns Estados para “categorizar” o conhecimento estudantil e têm quatro
níveis: “abaixo do básico”, “básico”, “adequado” e “avançado”. Um
estudante no nível “básico”, por exemplo, tem domínio mínimo do conteúdo
que deveria saber; um do “adequado”, por sua vez, tem domínio pleno.
No caso de matemática, no 9º ano do fundamental, “abaixo do básico”
significa uma nota entre 125 e 225; “básico”, entre 225 e 300;
“adequado”, entre 300 e 350; “avançado”, entre 350 e 500. Esses números
variam com a disciplina e a série.
A situação é um pouco melhor em português: 77,6% dos estudantes do 9º
ano das escolas públicas de todo o país não têm o conhecimento adequado
para o nível em que estão. Esses alunos tiraram nota menor que 275 e não
conseguem, por exemplo, reconhecer “posições distintas entre duas ou
mais opiniões relativas ao mesmo fato ou tema”, de acordo com o
documento do MEC.
Séries iniciais
Os resultados da Prova Brasil também mostram que quase sete em cada dez
alunos do 5º ano (68,5%) não conseguiram atingir o nível “adequado” em
português. Eles não sabem, por exemplo, localizar a informação principal
em um texto, não entendem uma metáfora ou mesmo inferem o que provoca
um eventual efeito de humor no que estão lendo.
Proficiência em português (escala Saeb)
Proficiência em matemática (escala Saeb)
Em matemática, o desempenho é praticamente o mesmo: 69,8% têm
conhecimentos “abaixo do básico” ou somente “básicos”. Entre os que os
estudantes deveriam fazer, mas não conseguem, está ler informações e
números apresentados em tabelas ou identificar que uma operação de
divisão resolve um dado problema.
A Prova Brasil é aplicada para alunos do 5º e 9º anos do fundamental de
escolas públicas municipais, estaduais e federais, de áreas rural e
urbana, que tenham, no mínimo, 20 matrículas na série avaliada. O exame
acontece a cada dois anos e os dados mais recentes disponíveis são os da
prova de 2009.
A divisão por faixas do MEC é a mesma para todos os níveis. Por isso,
as notas mínimas para cada uma das categorias é diferente em cada série,
já que o estudante vai adquirindo conhecimentos ao longo de sua vida
escolar.
Escala não é rigorosa, diz especialista
Para Francisco Soares, especialista em avaliações em educação e
professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a escala
montada não é rigorosa e traduz o que o estudante deveria saber. “Esses
números são um ponto de corte razoável. A gente não está sendo rigoroso
demais. Isso é o estado da educação brasileira, há 15 anos. Nos últimos
anos, tem havido algumas melhoras. Mas, ao que tudo indica, elas têm
sido produzidas por um número pequeno de alunos”, afirma.
Um total reduzido de estudantes com notas boas pode estar puxando a
melhora dos índices nacionais (como o Ideb), apesar dos resultados na
Prova Brasil, afirma Soares. “Os números sugerem que há alguns melhores.
Eu brinco que, no Brasil, a melhor maneira é treinar [no ensino
superior] são ‘Ronaldinhos’. Se você é bom, eu te dou mais, e você
melhora. Mas isso não pode ser para a educação básica”, afirma,
lembrando que a educação básica é um direito constitucional.
De acordo com Mozart Ramos, conselheiro do CNE (Conselho Nacional de
Educação), órgão vinculado ao MEC, os resultados mostram, pelo menos, os
caminhos que devem ser seguidos: mais investimento, melhor gestão,
maior capacitação de professores e um currículo que estimule o jovem a
estudar.
“Do ponto de vista da aprendizagem adequada, a gente ainda está
patinando. Isso tanto se aplica tanto no ensino médio quanto no final do
ensino fundamental. Onde estamos melhorando de forma de forma constante
é nas séries iniciais do fundamental”, diz.
Todavia eu me alegrarei no SENHOR; exultarei no Deus da minha salvação. O SENHOR Deus é a minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas. Habacuque 3:17-19 |
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