Mestrado na Unesp confirma: Professores de Física desistem de lecionar por causa do salário e das más condições de trabalho
Por:
Um em cada quatro professores de Física
desiste de lecionar; ou seja, 25% do quadro da disciplina. A constatação
é do pesquisador e professor Sérgio Rykio Kussuda, autor da dissertação
"A escolha profissional de licenciados em Física de uma universidade
pública", apresentada no seu Mestrado em Educação Para a Ciência na
Unesp, em 2012.
Muito além, da teoria, Sérgio conhece bem
o objeto de seu mestrado. Graduado em Fisica em 2009, atualmente é
Professor de Educação Básica II na rede estadual de São Paulo e, em suas
pesquisas acadêmicas, atua nos seguintes temas: ensino de física,
políticas educacionais, memórias de professores, formação de professores
de física e destino profissional.
Durante o trabalho para o mestrado, o
pesquisador rastreou a carreira da maioria dos alunos formados no curso
de licenciatura do campus de Bauru da Universidade Estadual Paulista
(Unesp) entre 1991 e 2008, com o objetivo de descobrir o destino
profissional do grupo.
A maioria dos egressos da Unesp começou a
lecionar na Educação Básica, mas uma parcela considerável desistiu da
profissão. A questão salarial é crucial. As bolsas de pesquisa de
pesquisa de mestrado e doutorado são mais altas que o valor pago para lecionar", disse um dos físicos que iniciaram a carreira no Magistério.
A desistência afetou tanto professores da rede pública quanto da particular. Enquanto o salário
e as más condições de trabalho afastam os profissionais da rede
pública, na particular há problemas como a falta de autonomia e a
obrigação de acatar o que diretores, alunos e pais querem, o que
interfere no andamento das aulas.
"Os números mostram que a falta de
professores na rede básica de ensino não é só um resultado da falta de
pessoas formadas na área, mas sobretudo das atuais condições de trabalho
e salário do cargo", avalia Roberto Nardi, professor da Faculdade de
Ciências da Unesp de Bauru e orientador do estudo.
Entre as dificuldades citadas pelo
professor Roberto Nardi estão o volume de horas de trabalho em salas de
aula cheias e com alunos com defasagem em aprendizados básicos, além da
falta de preparação dos licenciados em adaptar o conteúdo da disciplina
adquirido na faculdade para o nível dos estudantes do ensino básico.
Entre 1991 e 2008, 377 pessoas receberam o
diploma de Licenciatura em Física na Unesp de Bauru; entre elas, estão
os 52 físicos que preencheram o extenso questionário da pesquisa de
Sérgio Rykio Kussuda.
"Os principais fatores que motivaram o
abandono dos licenciados do Magistério foram a questão salarial, as
condições desfavoráveis de trabalho neste nível de ensino, especialmente
no Magistério público, e a consequente opção por outras profissões,
destacando-se o ingresso em programas de pós-graduação que permitem o
acesso ao magistério no ensino Superior e empregos em empresas de projeção nacional, públicas e privadas", conclui o pesquisador.
Há licenciados que nunca chegaram a
lecionar e outros que decidiram fazer outra graduação. Mas, dos 52
participantes da pesquisa, 27 ainda atuam como professores; sendo que
apenas 16, ou 30% do total, trabalham na rede básica de ensino.
"Ministrar aulas é um dom, uma vontade.
Gosto muito de dar aulas, porém, o sistema complica muito as coisas",
lamentou um dos professores que participaram da pesquisa.
O estudo revela ainda que mais da metade
dos entrevistados já lecionou outras disciplinas, principalmente
matemática e química. O contrário também acontece com tanta frequência,
que a Sociedade Brasileira de Física elaborou um programa de mestrado
profissional em Física, para suprir a falta de capacitação de
professores que lecionam a disciplina sem terem licenciatura na área.
"As condições de trabalho não são
atrativas para manter os licenciados no Magistério. O curso não prepara o
professor 100% para a sala de aula", explica Kussuda. É que os alunos
do curso de licenciatura só passaram a ter disciplinas específicas sobre
ensino recentemente, incluindo estágios e outras práticas. Antes, a
maior parte da carga horária do curso era ministrada por bachareis em
física que transmitiam o conhecimento da matéria, mas não as técnicas
sobre como ensinar esses conceitos a adolescentes.
O orientador do mestrado, Roberto Nardi,
mantém um grupo de pesquisa de Ensino de Ciências na Unesp de Bauru e
pretende ampliar a pesquisa, estendendo-a para outras amostras.
SERVIÇO: "A escolha
profissional de licenciados em física de uma universidade pública", de
Sérgio Rykio Kussuda, está na Biblioteca Virtual de Teses e Dissertações
da Unesp:
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